Dia 21 de março é o Dia Mundial da Poesia. Para celebrar esta data, selecionamos cinco poemas de autores e autoras contemporâneos para você conhecer e se aprofundar na obra destes escritores.
Eu durmo comigo, de Angélica Freitas
eu durmo comigo/ deitada de bruços eu durmo comigo/ virada pra direita eu durmo comigo/ eu durmo comigo abraçada comigo/ não há noite tão longa em que não durma comigo/ como um trovador agarrado ao alaúde eu durmo comigo/ eu durmo comigo debaixo da noite estrelada/ eu durmo comigo enquanto os outros fazem aniversário/ eu durmo comigo às vezes de óculos/ e mesmo no escuro sei que estou dormindo comigo/ e quem quiser dormir comigo vai ter que dormir ao lado.
Mesa, de Ana Martins Marques
mais importante que ter uma memória é ter uma mesa
mais importante que já ter amado um dia é ter uma mesa sólida
uma mesa que é como uma cama diurna
com seu coração de árvore, de floresta
é importante em matéria de amor não meter os pés pelas mãos
mas mais importante é ter uma mesa
porque uma mesa é uma espécie de chão que apoia
os que ainda não caíram de vez
Coqueiral, de Matilde Campilho
A saudade é um batimento que rebenta assim
vinte e oito vezes desde meu ombro tatuado
de desastre até à rosa pendurada em sua boca
E o amor, neste caso específico, é um mergulho
destemido que deriva quase sempre de uma nota
climática apenas para convergir no osso frontal
do crânio do rei da ilusão—terno é o seu rosto
Senhor, os ossinhos do mundo são de mel e ouro.
mathilda night and day (bar), de Bruna Beber
flor é bonito
temos em toda parte
parque jardim ramalhete
cemitérios pra agora
cerimônias pra viagem
e aqui nesse cardápio
temos flores em promoção
entre comidas
com nomes que não sei ler
e que só vejo em fotos de revistas especializadas
quando me mostram
na cozinha do restaurante
mas o senhor que gosta de flores
sabe que deve-se estar vivo
para gostar de flores.
Oficina de poesia, de Bruno Brum
Trabalhe em dois livros, simultaneamente.
Dedique a maior parte do seu tempo ao livro 1.
É nele que você colocará os melhores poemas.
No livro 2, escreva o que vier à cabeça,
sem muitas preocupações temáticas ou estilísticas.
Ele vai funcionar como um caderno de exercícios
e provavelmente nunca será lido.
Enquanto isso, continue trabalhando com afinco
nos poemas do livro 1.
Ao final do processo,
jogue fora os poemas do livro 1