Oficina Nos fios da navalha

Estão abertas as inscrições para a oficina Nos fios da navalha: mulheres tecendo resistências, com quatro encontros realizados nos dias 20 e 27 de novembro e 04 e 11 de dezembro, sempre das 9 da manhã ao meio dia. Esta atividade é realizada pelo Polo Sociocultural Sesc Paraty, dentro do projeto Bordados Poéticos, e organizada pela Coletiva Feminista MAR - Maria Angélica Ribeiro. 

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A proposta é contar a história das mulheres nas artes e práticas têxteis a partir de uma perspectiva feminista. Cada encontro contará com duas facilitadoras que irão alternar a condução das atividades e ao mesmo tempo criar um registro dos pontos mais significativos do grupo. 

As participantes da Coletiva, em suas histórias de atuação com oficinas e rodas de conversa, notaram a importância de atuar em pares quando abordam as temáticas feministas e as histórias de lutas e resistências das mulheres. De acordo com as facilitadores, esses temas costumam trazer à tona histórias, memórias e emoções que frequentemente precisam de atenção e cuidado e a presença de duas facilitadoras permite acolher as situações que aparecem sem comprometer a condução da atividade.   

As oficinas se organizam de forma articulada, afim de alcançar os seguintes objetivos: analisar como técnicas de tessitura e bordado contribuíram para a emancipação das mulheres ao longo da história; entender como as mulheres transformaram essas técnicas em ferramentas para lidar com a opressão imposta pela sociedade patriarcal; compreender as estratégias, práticas e símbolos utilizados por nossas ancestrais como formas de resistência e sobrevivência; conhecer as contribuições do movimento feminista para a construção da narrativas das mulheres e a visibilidade delas na história.

A seguir, apresentamos o tema de cada encontro:

20 de novembro
Entrelaçando nossas histórias: teoria feminista e história das mulheres

A história das mulheres é uma ferramenta fundamental para nossa emancipação. Durante milênios, a chamada história oficial tratou apenas dos grandes fatos e feitos dos homens, deixando as ações e resistências das mulheres à ordem patriarcal de fora dos relatos e dos arquivos. Nossa proposta com esta oficina é abordar, de maneira geral, as contribuições do movimento feminista para a história das mulheres e as maneiras como colocou em cheque a parcialidade da memória histórica, partindo da perspectiva de que o modo como narramos nossas histórias tem um papel fundamental na construção de outros mundos possíveis na arte e na vida. 

Nesse sentido, as facilitadoras apresentarão um apanhado geral da história das mulheres no ocidente e as reverberações do processo de colonização das Américas, da escravidão dos povos africanos e indígenas na consolidação da forma patriarcal moderna. A ideia central é demonstrar a historicidade da dominação patriarcal, desnaturalizando-a, além de evidenciar que a história das mulheres, longe de ser suplementar ou secundária à história geral, é elemento fundamental da construção do conhecimento humano.

Facilitadoras:
Flávia Pfeil: Doutora em Psicologia com ênfase nos efeitos psicossociais do trabalho doméstico e trabalho reprodutivo na modernidade/colonialidade. Psicóloga educacional na Secretaria Municipal de Educação de Paraty. Conselheira pelo Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres pela Secretaria Municipal de Educação de Paraty.

Thalita Aguiar: Professora de história da rede pública estadual. Pesquisadora da história das Mulheres. Membra-fundadora da Coletiva Feminista MAR. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Comparada (UFRJ).

27 de novembro 
Bordar, desmanchar, rebordar: o fio entre Penélope e Zuzu Angel

A menção aos têxteis na literatura é antiga. Desde a Antiguidade, o bordado e outras artes têxteis têm sido associadas a mitos, lendas, contos de fadas, drama e folclore. A prosa e a poesia também são tramas, só que de palavras, inclusive as palavras ‘texto’ e ‘têxtil’ têm uma origem comum na palavra latina ‘texere’, tecer.

Na Odisseia, um dos mais antigos livros da literatura universal, existe uma rainha lendária, a Penélope, cujo nome se inscreveu na esfera mítica tanto na atividade têxtil como na astúcia que a fazia fiar, tecer e desmanchar continuamente o manto fúnebre de seu sogro como forma de resistir aos pretendentes.  Partindo dela e tecendo ao redor de outras mulheres eternizadas em suas atividades tecelãs – Ariadne, Aracne, as Moiras – esticamos o fio para chegar até Zuzu Angel, uma costureira do século XX, que usou corte, costura e bordado como ferramentas de resistência à ditadura militar da época em que viveu.

A ideia central é ilustrar a conexão entre as narrativas e o ato de tecer e como essas atividades podem ser tanto refúgio como formas de resistência das mulheres à opressão que lhes é imposta.

Facilitadoras:
Olimpia Pacheco Calmon: Formada em Sociologia e em Letras (Tradução), ativista feminista da segunda onda no grupo Brasília Mulher, ativista feminista da quarta onda na Coletiva Feminista MAR, aposentada pelo Serviço Público Federal após 30 anos de trabalho no Banco Central.

Carolina Ryan Melchor: Professora de história, mestra em Estudos de Mulher Gênero e Sexualidade pela Universidade Estadual do Oregon, EUA.  Suplente no Conselho de Direitos das Mulheres de Paraty pela coletiva MAR e membra e cofundadora da coletiva MAR.


04 de dezembro
Ressignificando nossas memórias: feminismo, ancestralidade e memória coletiva.

As mulheres que vieram antes de nós criaram estratégias múltiplas para lidar com os limites impostos pela sociedade patriarcal, estratégias de resistência foram desenvolvidas para que sobreviver não fosse tão penoso. Uma das estratégias era estar entre mulheres, lavando, colhendo, tecendo, bordando, tramando, parindo. Através da história de outras mulheres, vamos, juntas, criar um manto da ancestralidade, que simbolize e honre as que vieram antes de nós. Símbolos individuais unidos, de mulheres múltiplas, darão origem a um símbolo grupal feito com tecido, agulhas, miçangas, reciclados, imagens, entre outros elementos.

Facilitadoras
Januária Pralon Moreira: Psicóloga mestra em Psicologia e Processos Sociais pela UFRRJ, arteterapeuta em formação. Atua no Centro de Atenção Psicossocial de Paraty e é facilitadora do Projeto de Geração de Renda deste serviço. Integrante do Coletivo Mulheres da Terra, da Coletiva Feminista MAR e do Coletivo Somar Economia Solidária.

Lila Ramires: Psicóloga, com formação em Gestalt-terapia pelo Instituto de Gestalt São Paulo, mestre em Psicologia Educacional pela Universidade de Barcelona, Espanha. Psicóloga clínica desde 2016 em Paraty, atendendo crianças, adolescentes e adultos. Especialmente mulheres vítimas de violência física e/ou sexual. É Conselheira pelo Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres pela Coletiva MAR.
 

11 de dezembro
Tecendo os fios da memória, bordando nossas narrativas
Para além da linha do bordado, propõe-se pensar o fio na história de resistência das mulheres. A oficina traz algumas experiências do bordado em movimentos de mulheres na América Latina, como Arpilleiras, Mulheres Atingidas por Barragens, Bordamos Feminicídios, entre outros. A partir de imagens trazidas pelas participantes de outras mulheres que as inspiram a bordar, a oficina articula um diálogo entre memória afetiva, autoimagem e história de vida dessas mulheres.

Faciltadoras:
Antonia Moura: Artista visual, fotógrafa e documentarista há 18 anos, pesquisou e produziu documentários, séries de TV, CDs, exposições, projetos de memória e salvaguarda do povo caiçara do litoral fluminense, paulista e paranaense. Entre os trabalhos, está o documentário "Teu canto de praia", a série de documentários “ Caminho da Escola” do SescTV,  a pesquisa Paraty Ciranda: a música como resistência no Museu do Forte em Paraty. A documentação do Intercâmbio Cultural Brasil/Portugal - As Marcas de Valadares. A comunicação para Ô de Casa! Mobilização, Articulação e Salvaguarda do Fandango Caiçara. É co-curadora do Festival de Curtas Metragens de Direitos Humanos – Entretodos.

Maíra Norton: Comunicadora e educadora audiovisual. Pesquisadora de cinema comunitário e pedagogias feministas. Doutoranda em Cinema Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Integrante da Coletiva Feminista M.A.R.


Sobre a Coletiva Maria Angélica Ribeiro
A Coletiva teve início em 2016, formado a partir do Fórum das Mulheres de Paraty, após as mobilizações por justiça diante do caso de Giselle Alves, skatista de 33 anos que foi brutalmente estuprada e assassinada no Centro Histórico de Paraty. A coletiva reúne mulheres de diferentes idades e formações, a maioria mães, tendo como foco de atuação o campo da educação. Realizamos o Cine Mulher – cineclube que exibe filmes de diretoras mulheres, com temáticas feministas – e rodas de conversa com estudantes, dentre outras atividades, majoritariamente em espaços de escolas públicas. Nesses cinco anos de existência, a Coletiva MAR realizou quatro Encontros de Formação Feminista em Paraty, convidando mulheres ativistas de diferentes lugares do Brasil; Grupos de Estudos Feministas abertos às mulheres da cidade; compõe o Conselho Municipal de Direitos das Mulheres de Paraty dentre outras ações pontuais. Para mais informações, visite as páginas da Coletiva MAR no Instagram (@feministas_mar) e Facebook.

DATAS E HORÁRIOS
Datas: 20 de novembro, 27 de novembro, 04 de dezembro e 11 de dezembro
Horário:  09 às 12h
Local: online, via aplicativo Teams 

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